Nunca devemos estar sozinhos. Também acredito que não fazemos as coisas sozinhos. Sempre somos ou fomos por alguém ajudados, ensinados ou encorajados.

Do nascimento ao leito de morte, sempre precisamos de ajuda e me refiro ao suporte pleno para nascer, o acalento e o cuidado entregue pelo amor materno, e do suporte resignado que encerra o último cuidado permitido.

Se eu sei fazer algo, alguém me ensinou, influenciou, indicou o caminho a seguir ou a não seguir. Os professores, em alguma medida os influencers de antigamente, conseguiram ensinar-me, mesmo que o mérito também seja meu, não hesitaria em dizer, nós aprendemos. Paulo Freire diz que:

“professor não é aquele que sempre ensina, mas aquele que, de repente, aprende”
e aprende junto com o aluno.

Assim, o mundo, essa sociedade, é um anelo de servir, onde todos precisam de ajuda e são capazes de ajudar alguém. Ninguém faz nada sozinho, sempre fomos nós ou a gente.

Escrevo isso pois é algo que me deixou pensativo em uma recente entrevista. Enquanto discorria sobre minhas experiências, utilizando “nós” e “ a gente”, a pessoa interrompeu questionando sobre “quem era nós e a gente”.

Não fiz nada sozinho, sempre temos ou tivemos o suporte direto e indireto de muitas pessoas. Newton escreveu:

“se ví mais longe é porque me apoiei sobre os ombros de gigantes”

Posso parafrasear Brecht, sem o talento e a força cognitiva: Instalei mais de 200 robôs, programei mais de 200 PLC, startei mais de 200 vezes a fábrica da Ford em Camaçarí…
Não tinha ninguém mais? Nem o pessoal da limpeza?

Perguntas de um Operário Letrado


O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

Bertold Brecht