Esperança
publicado em 2/jan/2021
Somos apaixonados por perspectivas, por previsões e adivinhações ou prognósticos. Muito do que somos hoje e o que de fato nos trouxe até aqui é devido a análise de perspectivas. Yuval Harari teve um insight muito pertinente ao descrever a passagem de uma sociedade coletora e caçadora para uma sociedade agrária.
Houve, segundo ele, a troca de uma vida no presente contínuo por uma vida no futuro, onde o que estaria por vir seria melhor. A esperança, a expectativa e a perspectiva de uma colheita como benção pelo trabalho nos trouxe, imemorialmente, os traços de personalidade social presentes hoje.
Assim, não é de hoje que olhamos para o céu e para as estrelas na busca de respostas para o futuro. Mesmo que o ano seja uma entidade arbitrária e virtual, definida pelos habitantes de determinada região e fuso horário, o suceder dos dias traz essa sensação de novidade, sem a qual seria impossível convencer tantas pessoas a sacrificar-se pelo trabalho ao invés de simplesmente coletar amêndoas, castanhas e morangos ou caçar uma galinha para ter alimento pelo dia, no máximo pela semana.
O professor Clóvis de Barros Filho, em uma palestra ilustra bem isso ao narrar a vida de estudante, estagiário, funcionário, gerente e aposentadoria, sempre com o melhor está por vir.
Trecho da palestra de Clóvis Barros Filho
Drauzio Varella explica na edição de 2/jan/2021 do jornal Folha de São Paulo não ser um alienado otimista, mas vê coisas para comemorar no ano que se inicia. A comemoração se explica, no caso de um médico e defensor de práticas públicas de saúde, pois teremos em breve vacina. Esta é uma perspectiva que se irá concretizar, mais cedo ou mais tarde, porquanto já seja realidade presente em quarenta países. Folha de São Paulo - Drauzio Varella
Enquanto perspectiva econômica, de crescimento e desenvolvimento, poderemos ter outra década perdida no Brasil, pois não se vê movimentação para mudanças econômicas e de liberdade de trabalho no horizonte. Assim vamos continuar amarrados mais um tempo, talvez até que a próxima geração chegue a idade economicamente ativa.
Enquanto perspectiva política, o mundo continuará juntando os pedaços, cuidando das feridas e das perdas. Novamente a tendência em esperar por uma boa colheita explica nossa fé que sairemos melhores lá pelo meio do ano.
Júlio Cesar foi advertido por um vidente a tomar cuidado com os idos de Março:
Teremos muita turbulência durante o ano, em parte por ter o Brasil na presidência um mandrião, mas o pico de contaminação de COVID-19 devido às festas de fim de ano caminha para ser logo no início de Janeiro, com as consequências repercutindo como réplicas sísmicas até março. A partir de março teremos talvez o início da vacinação para os demais brasileiros que não estavam na primeira fase da vacinação, após resolverem qual vacina e adquirirem as agulhas e seringas necessárias para administrar duas doses para uma população de 211 milhões de pessoas.
Essa coisa de esperar o melhor, de ter a esperança como teimosia permanente é dilacerante às vezes, porém, é o que temos e o que nos faz suportar o mundo e nossas dores.