Encontrei na vida ecos desse trecho do Amyr. É forte, singelo, porém verdadeiro. Nas andanças pela manutenção, produção e engenharia de projetos, pude identificar semelhanças com a “virtude de uma viagem longa”.

“Talvez seja esta a principal virtude de um barco em viagem longa: a de revelar, na rotina crua das dificuldades e alegrias cotidianas, os verdadeiros valores e habilidades de quem está embarcado.

Nenhuma máscara de comportamento, nenhuma falsa aparência, nenhum currículo floreado de qualidades resiste a esse regime.

Com a passagem longa do tempo, a sucessão contínua de tarefas, dia e noite, e a convivência estreita, não há como ocultar a própria índole.

Oportunistas, acomodados e egoístas, ao se dissimularem, revelarão em pouco tempo o que são. Se assumirem que são, é possível que se tornem grandes tripulantes. Mas a bordo nunca deixarão de ser o que são.

Do mesmo modo, indivíduos às vezes atrapalhados, acanhados ou mesmo ineptos em marinharia poderão mostrar qualidades verdadeiras que no dia a dia escondem, e que a bordo serão fundamentais.

As aparências, o currículo e a facilidade de persuadir ou comunicar-se têm, em terra, infelizmente, algum valor. No mar, nenhum.”

(Linha-D’água - Entre Estaleiros e Homens do Mar; Amyr Klink)